Ela fazia triatlo e um dia acordou sem enxergar: era doença rara

Até 2022, Evelyn Figueiredo, 29, levava uma vida bastante ativa e era atleta amadora de triatlo. Um dia acordou sem enxergar. Pouco tempo depois, o quadro evoluiu para uma visão dupla e surgiram dores de cabeça persistentes, perda de movimentos e equilíbrio.
Ao procurar ajuda médica em hospitais de Brasília, onde mora, a neuropsicopedagoga recebeu o diagnóstico de síndrome de Arnold-Chiari, uma condição rara que ocorre devido a uma malformação que atinge o sistema nervoso central. A seguir, ela detalha sua história:
"Sempre fui ativa e ia para o trabalho de bicicleta. No final do Carnaval de 2022, acordei e não conseguia enxergar. Cocei os olhos e a visão foi ficando turva e dupla.
Achei que a cegueira seria temporária e provocada por uma enxaqueca com aura. Procurei alguns hospitais, mas fui dispensada logo após o relato dos sintomas.
Não entendi nada do que estava acontecendo, só sabia que a situação era grave.
Fiquei com receio de desmaiar na rua ou dirigindo. Meus sintomas pioraram. Comecei a ter muita dor de cabeça, com sensação de pressão craniana, tontura e vômitos. Procurei o Hospital de Base do Distrito Federal e me disseram que a condição não tinha cura, apenas tratamento para os sintomas.A cirurgia não era uma opção por ser muito arriscada. Para se ter uma ideia, seria necessário retirar uma parte do meu cérebro. Ela só ocorreria se houvesse o risco de morrer.Crises e sintomas persistentes

Hoje sinto muita dor de cabeça, não consigo mais correr. A pressão na cabeça é constante e preciso tomar cuidado com os movimentos que realizo. Também tenho dificuldade para engolir.
Quando estava internada, perguntava aos médicos se a minha visão, movimentos e equilíbrio voltariam, e eles me diziam que a doença só pioraria. Sempre tentei levar com bom humor e perseverança para não desanimar.Após dois meses, comecei a fazer exercícios em casa, adaptei minha bicicleta e aos poucos meus movimentos foram voltando. Minha visão se normalizou.Ainda não tenho o equilíbrio completo, sinto muita pressão na cabeça, tonturas terríveis, minha capacidade de dirigir foi afetada, tenho formigamento nas mãos e pernas. Por conta da síndrome, tive que abandonar o triatlo e nas crises não consigo sair da cama.Mudanças na rotina e tratamento contínuo
Tive que mudar minha rotina, já que não ando mais sozinha e tenho medo de dirigir. Atrapalhou muito o meu trabalho, pois perco muito a concentração.Os sintomas aparecem do nada, e em segundos há uma piora repentina. Já aconteceu de estar com os amigos em um churrasco e depois ir para casa me sentindo muito mal ou correr para o pronto-socorro.

É comum que até mesmo os médicos desconheçam as doenças raras. É fundamental buscar apoio em pessoas que passam pela mesma situação. É uma dor que só quem tem sabe.
Entenda a síndrome Arnold-Chiari
Trata-se de uma condição rara que ocorre após uma malformação da junção do crânio com a coluna vertebral, afetando a parte posterior da cabeça.
Nessa região estão localizados o cerebelo (porção do cérebro que controla o equilíbrio) e o tronco cerebral, que são comprimidos e pressionados para baixo.
Portanto, é comum que o indivíduo com a síndrome Arnold-Chiari apresente dificuldade de equilíbrio, perda de coordenação, problemas visuais e dores de cabeça intensas.

- Pessoas com os tipos 3 ou 4 apresentam sinais mais graves e podem não desenvolver o cerebelo, tornando-se uma situação incompatível com a vida.
- Visão turva ou dupla, além de sensibilidade à luz;
- Dificuldade de coordenação motora;
- Vertigens;
- Dores de cabeça e no pescoço;
- Dificuldade na deglutição acompanhada de náuseas;
- Fraqueza muscular
Nos tipos 2 a 4, o tratamento é cirúrgico. Nesses casos, o objetivo é reduzir a pressão intracraniana e pode ser preciso remover uma parte do crânio. Portanto, é indicada apenas em situações mais graves, que colocam a vida da pessoa em risco.
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